A Petrobrás tomou, há um ano, US$ 10 bilhões emprestados do Banco de Desenvolvimento da China (BDC) e estaria, agora, interessada em novos empréstimos, segundo informou a correspondente em Pequim, Cláudia Trevisan (Estado, 27/5). Mas não é de empréstimos e, sim, de vultosos capitais que a Petrobrás precisa, segundo analistas brasileiros.
Na semana passada, o Conselho de Administração da Petrobrás aprovou a convocação de assembleia-geral extraordinária (AGE), em 22 de junho, para alterar o estatuto social e permitir a elevação do capital autorizado e da quantidade máxima de ações.
Serão criadas, assim, as condições para uma oferta pública de ações. Mas, para ser bem-sucedida, esta ainda depende da definição de aspectos da gestão da empresa. Entre eles, a conclusão do plano de negócios para o período 2010-2014, com investimentos previstos de US$ 200 bilhões a US$ 220 bilhões; o valor da cessão onerosa de 5 bilhões de barris, com os quais o Tesouro pretende capitalizar a Petrobrás, que depende de aprovação de projeto de lei que tramita no Congresso; e, afinal, que a estatal mantenha o endividamento sob controle.
Dado o agravamento da crise internacional, o presidente da estatal, Sergio Gabrielli, admitiu a possibilidade, pouco depois do anúncio da assembleia-geral extraordinária, de um adiamento do prazo de capitalização, caso se torne mais difícil atrair recursos para aquela que deverá ser uma das maiores operações de lançamento de ações do mundo.
A capitalização é tida como indispensável não só para que a Petrobrás possa arcar com os vultosos investimentos que terá de fazer para explorar a área do pré-sal, como porque a empresa já está endividada. Para se manter no grau de investimento, concedido pelas agências internacionais de classificação de risco, o endividamento líquido da empresa não pode superar 35% do capital ? e já atingiu 32%, calculam especialistas. Além disso, a Petrobrás precisa apresentar uma relação baixa (até 2,5 vezes) entre a dívida líquida e os lucros menos impostos, juros, depreciações e amortizações (Ebtida).
"A Petrobrás tem de se capitalizar e não tomar empréstimos", afirmou o analista de petróleo do Banco do Brasil, Nelson Rodrigues de Matos. Outro analista, Luiz Otávio Broad, da Ágora Corretora, também vê com preocupação o nível de endividamento da Petrobrás, a não ser que a empresa use os recursos da nova dívida para quitar empréstimos antigos que tenham maiores custos ou prazos menores.
A busca de novos empréstimos na China foi divulgada pelos jornais Diário do Povo e Global Times e confirmada por pessoas ouvidas pela correspondente do Estado, mas não pela Petrobrás. A estatal estaria negociando linhas de crédito com o Banco de Desenvolvimento da China, o Bank of China e o Industrial and Commercial Bank of China. Uma vez mais a garantia das operações será a entrega futura de petróleo ? pela primeira operação, serão entregues 150 mil a 200 mil barris/dia, durante 10 anos.
A Petrobrás aplicou, no primeiro trimestre, R$ 17 bilhões dos R$ 88 bilhões previstos para este ano, ou seja, o ritmo de investimentos já parece insuficiente. Se apenas mantiver esse ritmo e não houver capitalização, o nível de endividamento da empresa alcançará os 35% ao fim do terceiro trimestre deste ano, acredita um analista da Planner Corretora, Victor de Figueiredo.
Se o endividamento levar a Petrobrás à perda do grau de investimento, ela pagará mais caro pelos empréstimos que tomar no mercado internacional e poderá ter maiores dificuldades para colocar ações junto a investidores externos.
Mas, em contraste com as afirmações de Gabrielli sobre o eventual adiamento da capitalização, a disposição de investir da Petrobrás não parece arrefecer: a empresa anunciou, quinta-feira, a aquisição da Gás Brasiliano Distribuidora, que fornece gás natural a municípios da região noroeste do Estado de São Paulo, por um preço estimado em US$ 250 milhões. Apenas aproveitou, segundo analistas, uma oportunidade comercial.
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