Leilão da 3ª maior hidrelétrica do mundo é novo capítulo do modelo polêmico de ocupação do setor de energia na Amazônia
Sucesso ou fracasso do pregão, agendado para terça, pode ter destaque nas eleições, pois estrutura foi idealizada por Dilma
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A ALTAMIRA (PA) na Folha de São Paulo
O leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, projetada para ser erguida na região da Volta Grande do rio Xingu (PA), pode selar na terça-feira o destino de um projeto idealizado originalmente pelos militares e ressuscitado pelo governo Lula.
Belo Monte converteu-se num divisor de águas, não só para uma das bacias hidrográficas mais importantes do interior, mas pelo fato de representar novo capítulo de um modelo polêmico de ocupação do setor energético na região amazônica, onde repousa a futura energia do Brasil. Além disso, poderá ter papel de peso no processo eleitoral.
O atual modelo do setor elétrico, idealizado pela ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil Dilma Rousseff, passará pelo maior teste e deve ser usado como elemento adicional na campanha eleitoral para a sucessão de Lula.
Se o leilão resultar na concessão do projeto a menos de R$ 83 por megawatt-hora (tarifa-teto prevista no edital), Dilma ganhará trunfo importante para usar na eleição, ao propalar a possibilidade de expansão da produção de energia ao preço quase equivalente ao das usinas do rio Madeira (Jirau e Santo Antônio, em Rondônia).
Um fracasso do leilão dará aos concorrentes (sobretudo ao tucano José Serra) munição para atacar a rival.
Do ponto de vista estritamente energético, Belo Monte pode elevar a oferta de energia para o Sistema Interligado Nacional, o que beneficia praticamente todo o país, exceto as regiões remotas com sistemas de abastecimento isolado.
A previsão é que, em janeiro de 2015, o concessionário que vencer o leilão ligará a primeira máquina da usina e começará a gerar energia. É um projeto grande em tamanho. Como terceira maior usina hidrelétrica do mundo (atrás da chinesa Três Gargantas e da binacional Itaipu), Belo Monte será um gigante com força limitada.
Apesar de o projeto prever a capacidade instalada de 11.233 MW, a oferta média de energia não passará de 4.500 MW médios. A relação entre potência instalada e geração firme que poderá ser extraída da usina será de 40% do poder das turbinas que receberão as águas do Xingu. É uma das piores relações potência/energia firme do sistema elétrico brasileiro.
Sobre isso, a Eletrobras -controladora da Eletronorte, que será a operadora de Belo Monte- diz que o baixo fator de carga (nome técnico para essa medida de eficiência do projeto) é compensado pelo fato de que a hidrelétrica poderá melhorar o aproveitamento das usinas instaladas em outras bacias hidrográficas.
Enquanto Belo Monte puder gerar a plena carga os mais de 11 mil MW, outras usinas das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste ou Sul poderão "descansar" e recuperar o nível de água de seus reservatórios.
Esse é um benefício real para o sistema, mas tampouco tem convencido especialistas no assunto e potenciais investidores, como Odebrecht e Camargo Corrêa, que desistiram do leilão por considerar as condições de receita versus risco perigosa demais para a empreitada. Quem ficar e assumir o projeto terá de ter em conta o fato de que, apesar de instalar uma usina gigante, poderá faturar com apenas 40% de sua força.
Questão indígena
Após a passagem do cineasta James Cameron pelo Brasil, a questão indígena, um dos pontos mais polêmicos da usina, ganhou relevância. Em Altamira, há certa preocupação com a reação dos indígenas na terça-feira. A visita do cineasta de "Avatar" acendeu as esperanças de uma derrota do governo e de suspensão do leilão.
"Se houver guerra entre os índios e o governo, o mundo vai ficar contra Lula. Se partir para o confronto, vai ser pior para os dois lados", afirma José Bispo dos Santos, 48, um dos moradores de Altamira. Ele resume parte do sentimento regional sobre a reação indígena e teme pelo pior.
FOLHA ONLINE
Ouça podcast com relatos do repórter no Pará
www.folha.com.br/1010617
ENVIADO ESPECIAL A ALTAMIRA (PA) na Folha de São Paulo
O leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, projetada para ser erguida na região da Volta Grande do rio Xingu (PA), pode selar na terça-feira o destino de um projeto idealizado originalmente pelos militares e ressuscitado pelo governo Lula.
Belo Monte converteu-se num divisor de águas, não só para uma das bacias hidrográficas mais importantes do interior, mas pelo fato de representar novo capítulo de um modelo polêmico de ocupação do setor energético na região amazônica, onde repousa a futura energia do Brasil. Além disso, poderá ter papel de peso no processo eleitoral.
O atual modelo do setor elétrico, idealizado pela ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil Dilma Rousseff, passará pelo maior teste e deve ser usado como elemento adicional na campanha eleitoral para a sucessão de Lula.
Se o leilão resultar na concessão do projeto a menos de R$ 83 por megawatt-hora (tarifa-teto prevista no edital), Dilma ganhará trunfo importante para usar na eleição, ao propalar a possibilidade de expansão da produção de energia ao preço quase equivalente ao das usinas do rio Madeira (Jirau e Santo Antônio, em Rondônia).
Um fracasso do leilão dará aos concorrentes (sobretudo ao tucano José Serra) munição para atacar a rival.
Do ponto de vista estritamente energético, Belo Monte pode elevar a oferta de energia para o Sistema Interligado Nacional, o que beneficia praticamente todo o país, exceto as regiões remotas com sistemas de abastecimento isolado.
A previsão é que, em janeiro de 2015, o concessionário que vencer o leilão ligará a primeira máquina da usina e começará a gerar energia. É um projeto grande em tamanho. Como terceira maior usina hidrelétrica do mundo (atrás da chinesa Três Gargantas e da binacional Itaipu), Belo Monte será um gigante com força limitada.
Apesar de o projeto prever a capacidade instalada de 11.233 MW, a oferta média de energia não passará de 4.500 MW médios. A relação entre potência instalada e geração firme que poderá ser extraída da usina será de 40% do poder das turbinas que receberão as águas do Xingu. É uma das piores relações potência/energia firme do sistema elétrico brasileiro.
Sobre isso, a Eletrobras -controladora da Eletronorte, que será a operadora de Belo Monte- diz que o baixo fator de carga (nome técnico para essa medida de eficiência do projeto) é compensado pelo fato de que a hidrelétrica poderá melhorar o aproveitamento das usinas instaladas em outras bacias hidrográficas.
Enquanto Belo Monte puder gerar a plena carga os mais de 11 mil MW, outras usinas das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste ou Sul poderão "descansar" e recuperar o nível de água de seus reservatórios.
Esse é um benefício real para o sistema, mas tampouco tem convencido especialistas no assunto e potenciais investidores, como Odebrecht e Camargo Corrêa, que desistiram do leilão por considerar as condições de receita versus risco perigosa demais para a empreitada. Quem ficar e assumir o projeto terá de ter em conta o fato de que, apesar de instalar uma usina gigante, poderá faturar com apenas 40% de sua força.
Questão indígena
Após a passagem do cineasta James Cameron pelo Brasil, a questão indígena, um dos pontos mais polêmicos da usina, ganhou relevância. Em Altamira, há certa preocupação com a reação dos indígenas na terça-feira. A visita do cineasta de "Avatar" acendeu as esperanças de uma derrota do governo e de suspensão do leilão.
"Se houver guerra entre os índios e o governo, o mundo vai ficar contra Lula. Se partir para o confronto, vai ser pior para os dois lados", afirma José Bispo dos Santos, 48, um dos moradores de Altamira. Ele resume parte do sentimento regional sobre a reação indígena e teme pelo pior.
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