quinta-feira, 8 de abril de 2010

A fofoca como assunto de Estado por Clóvis Rossi

A DCRI (sigla em francês para Diretoria Central de Informação Interna, a contra-espionagem francesa), lançou uma investigação para tentar chegar à origem de uma fofoca (ou rumor, ao gosto do freguês) a respeito de desavenças entre Nicolas Sarkozy e sua mulher, Carla Bruni.

Desavenças de que teriam resultado infidelidade (no singular ou no plural) dele ou dela, não ficou muito bem estabelecido nem mesmo na foca.

Tudo poderia ter ficado no âmbito dos blogues/twitter, onde o affaire aparentemente nasceu e que é território livre para o rumor e a fofoca. Acontece que um repórter da Skynews britânica teve a ousadia de perguntar diretamente a Carla Bruni sobre a suposta infidelidade do marido presidente.

Aí, ela se enfureceu e os acontecimentos se precipitaram a ponto de ter sido demitido um blogueiro do "Journal de Dimanche", que se arriscara a dizer que havia ouvido falar que o Eliseu (a sede do governo) "havia sido atingido por um tremor de magnitude 9", o que não diz nada para os não-iniciados no caso.

A confusão chegou ao ponto de rumores apontarem Rachida Dati como envolvida na divulgação da fofoca. Dati é uma personalidade midiática de primeira: uma linda morena, advogada, descendente de imigrantes árabes, foi da vanguarda da campanha presidencial de Sarkozy, ganhou o Ministério da Justiça depois da vitória, aparentemente caiu em desgraça e acabou sendo chamada para disputar a eleição para o Parlamento Europeu (elegeu-se, aliás).

Não é a primeira controvérsia que envolve o nome de Dati. Ela ficou grávida, já ministra, uma produção independente que os rumores atribuíram a José María Aznar, o ultra-conservador ex-presidente do governo espanhol.

Dati nega ambos os envolvimentos. Sobre o mais recente, disse que achava "escandaloso" o fato de seu nome aparecer nos rumores. "Estamos em um Estado de Direito, e é preciso que isso cesse", protestou em entrevista para a televisão.

De minha parte, acho irrelevante quem dorme com quem nos ambientes oficiais. Mas, nesse caso, o rumor está afetando o funcionamento não só do governo, como demonstra a investigação da contra-espionagem, como da justiça que abriu a sua própria apuração em torno da "introdução fraudulenta de dados em um sistema informático".

É o universo típico das celebridades invadindo o terreno da política --e empobrecendo-o.

Na Folha Online

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