Christina Lemos
Quem esteve no Itamaraty no final da manhã desta quarta para a cerimônia de entrega dos cargos dos 10 ministros que vão virar candidatos não pode ter deixado de notar: um oceano de palavras separa o presidente Lula de sua escolhida.
A ministra Dilma caprichou: usou todos os seus recursos de linguagem para fazer o melhor discurso possível. Afinal, a ocasião era importantíssima: sua despedida do governo e do chefe que a catapultou à situação de candidata à presidência. O resultado foi um discurso emocionado, cheio de elevados elogios a Lula, ressaltando a importância dos avanços que seu governo promoveu. Foi uma dos melhores desempenhos da ministra. Mas, ainda assim, esteve uma galáxia de distância do que é capaz o presidente Lula com as palavras.
Lula assumiu a tribuna com seu habitual descompromisso com qualquer coisa, a não ser estrelar e catalisar as atenções. Agradeceu cada um dos auxiliares que se afastam dos cargos, com uma palavra simpática e demonstrando conhecer em detalhes o histórico de cada pasta. Para prender a atençao da platéia fez graça, contou caso, gesticulou, atacou a oposiçao, as elites, a imprensa – deu o seu show, sob o olhar admirado da ministra.
A oratória de Lula foi forjada nos ABC, falando a trabalhadores prestes a perderem o emprego, serem presos ou algo ainda pior. O presidente aprendeu como poucos a usar as palavras no limite da sua expressividade, e a deixar a “frescura” de lado – até porque, operário não é de atentar para sutilezas. Ao caprichar um pouco mais na escolha das palavras, fez chacota de si mesmo. Chamou a atenção do ministro Samuel Pinheiro: “atenção, Samuel, atente para o “adentrar” – brincou. Lula desacraliza as oratória, transita do popular ao xulo, do técnico ao político, num turbilhão de imagens e citações que o fazem ir do Oriente Médio ao interior de São Paulo, num mesmo discurso.
Boa parte do segredo da aprovaçao do presidente está na sua capacidade de se comunicar com a população, sem dúvida. A oposição costuma reclamar que o petista nunca desceu do palanque, em 7 anos de governo. Foi mesmo uma gestão feita até aqui de solenidades cotidianas, e no centro delas, a palavra de Lula, replicada milhões de vezes diariamente por todos os meios de comunicação.
Não há embarcação que atravesse a ministra Dilma, com sua modesta capacidade de comunicação, neste mar que a separa de Lula. O próprio presidente sabe disso. Enquanto pode, Lula fala e briga por ela. Mas vai chegar a ora de descer do palco.
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