A invectiva do Irã contra a Rússia nesta quarta-feira pelo apoio a novas sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) demonstrou como os antigos aliados agora brigam publicamente.
O presidente Mahmoud Ahmadinejad emitiu uma rara repreensão pública a seu colega russo Dmitry Medvedev, dizendo que ele deveria "agir com mais cautela" e "pensar mais." O Kremlin respondeu afirmando que Ahmadinejad deveria abster-se da "demagogia política."
Abaixo, algumas perguntas e respostas sobre o porquê e como Moscou mudou de posição com relação ao Irã:
IRÃ E RÚSSIA NÃO ERAM ALIADOS?
A Rússia é um importante parceiro comercial do Irã. O comércio bilateral chegou a 3 bilhões de dólares no ano passado, com Moscou vendendo tecnologia nuclear, aeronaves e outros produtos para a República Islâmica.
O Irã e a Rússia também estão entre os principais produtores mundiais de petróleo e gás e têm cooperado nessa área.
Na arena diplomática, a Rússia resistiu em 2008 e no começo de 2009 a novas sanções da ONU contra Teerã e minimizou as sugestões de que o Irã usava o programa nuclear para construir bombas.
A RÚSSIA SE OPÔS A UMA BOMBA IRANIANA?
As autoridades russas sempre insistiram que Moscou --que tem um grande problema com o terrorismo islâmico-- não quer que um poderoso país islâmico perto de sua instável fronteira no sul tenha armas nucleares. Até o ano passado, no entanto, a Rússia não acreditava nas avaliações norte-americanas de que era provável que isso acontecesse.
PUTIN NÃO COLOCOU DE LADO QUALQUER AMEÇA NUCLEAR VINDA DO IRÃ?
Em outubro de 2007, ainda na Presidência, Vladimir Putin tornou-se o primeiro líder do Kremlin a visitar o Irã desde Stalin, dando um apoio sorridente a Ahmadinejad, advertindo os Estados Unidos sobre qualquer ação militar e defendendo o direito do Irã em prosseguir com um programa nuclear civil.
A RÚSSIA ACREDITAVA QUE O IRÃ TENTAVA FABRICAR UMA BOMBA?
O secretário de Defesa norte-americano, Robert Gates, contou sobre um encontro que teve em 2007 com Putin:
"Quando eu me reuni com o presidente Putin e falei sobre isso, ele basicamente rejeitou a ideia de que os iranianos teriam um míssil com alcance para atingir boa parte da Europa Ocidental e da Rússia antes de 2020, mais ou menos", afirmou ele num depoimento ao Senado norte-americano no ano passado.
"E ele me mostrou um mapa preparado pelos caras da inteligência dele. E eu lhe disse que ele precisava de um novo serviço de inteligência."
QUANDO ISSO COMEÇOU A MUDAR?
Nos dois anos após aquele encontro, a Rússia começou a mudar sua avaliação sobre o programa iraniano. Entretanto, em junho de 2009, Moscou ainda estava satisfeita em receber Ahmadinejad para uma cúpula de países do BRIC na Sibéria e o parabenizou pela reeleição. A mudança de fato na política com relação ao Irã parece ter iniciado ao longo do último verão em Moscou.
A ELEIÇÃO DE OBAMA ALTEROU ALGUMA COISA?
Quando o presidente norte-americano, Barack Obama, chegou ao poder em janeiro de 2009, ele prometeu "reiniciar" as relações com a Rússia. Isso significou concessões a Moscou, tais como voltar atrás nos planos de defesa antimíssil da era Bush no Leste Europeu e aceitar a influência russa na ex-União Soviética, em troca da ajuda de Moscou nos problemas internacionais como o programa nuclear iraniano e o Afeganistão. Os laços entre os dois países melhoraram drasticamente.
MAS A RÚSSIA NÃO RESISTIA ÀS SANÇÕES ATÉ O ANO PASSADO?
Apesar de as autoridades russas aparentemente resistirem à pressão ocidental com relação ao Irã, embaixadores do Ocidente em Moscou falavam com confiança no ano passado sobre como a Rússia havia ajudado e apoiado na questão do Irã. Parece que Moscou dava garantias privadas de apoio ao Ocidente no caso do Irã algum tempo antes de mudar sua posição pública.
O anúncio do Ocidente, em setembro, sobre a descoberta de uma nova usina nuclear secreta iraniana perto da cidade sagrada de Qom solapou ainda mais a confiança de Moscou no Irã. A Rússia afirmou que a usina violava as decisões do Conselho de Segurança da ONU e era "fonte de séria preocupação." Em novembro de 2009, Moscou apoiou uma resolução da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) condenando a iniciativa.
MEDVEDEV FAZ DIFERENÇA?
O forte relacionamento pessoal de Medvedev com Obama tornou mais fácil para os dois líderes aprovarem uma posição comum sobre o Irã. O presidente russo falou pela primeira vez sobre novas sanções contra o Irã em setembro e as mencionou novamente durante uma visita aos Estados Unidos no mesmo mês.
Após assinar um tratado de redução de armas nucleares com Obama no mês passado, Medvedev afirmou lamentar que o Irã não estava respondendo a propostas construtivas sobre o seu programa nuclear. O Irã reclamou que a Rússia está cedendo à pressão norte-americana.
A RÚSSIA AINDA NÃO FORNECE TECNOLOGIA NUCLEAR AO IRÃ?
Moscou tem um contrato de 1 bilhão de dólares com Teerã para construir e iniciar uma usina nuclear em Bushehr, no Irã. A usina está prevista para começar a funcionar em agosto, após numerosos adiamentos, os quais um parlamentar iraniano disse que eram resultado de a Rússia usar o Irã como penhor nas negociações com as outras potências como os EUA.
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, reclamou sobre a inauguração de Bushehr prevista para o verão (no Hemisfério Norte) quando visitou Moscou em março, mas os diplomatas ocidentais dizem reservadamente que a Rússia ofereceu salvaguardas satisfatórias contra o uso da usina para fins militares.
A RÚSSIA NÃO IA VENDER AO IRÃ UM SISTEMA DE DEFESA AÉREO?
Moscou assinou um contrato em 2007 para vender ao Irã o S-300, um moderno sistema de mísseis superfície-ar que pode ser usado para derrubar múltiplos foguetes e aeronaves. No entanto, a Rússia ainda não cumpriu o contrato e enviados ocidentais afirmam ter garantias feitas reservadamente por Moscou de que não o fará.
O QUE FEZ A RÚSSIA APROVAR AS SANÇÕES CONTRA O IRÃ DESTA VEZ?
Uma autoridade do Kremlin afirmou neste mês que, se Washington quisesse o apoio de Moscou para as novas sanções contra o Irã, precisaria suspender o banimento comercial norte-americano contra quatro empresas de armas russas. Washington suspendeu as sanções na sexta-feira da semana passada, embora as autoridades norte-americanas continuem a negar qualquer ligação direta com a questão das sanções ao Irã.
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