Depois das japonesas e coreanas, montadoras chinesas aumentam aposta no País, com mais importação e até construção de fábricas
Entre as marcas chinesas, a estatal Chery é a que tem planos mais ambiciosos para o Brasil. Em 2013, ela pretende inaugurar uma fábrica com investimentos de US$ 700 milhões. Será a primeira a colocar os dois pés no mercado local. O investimento será bancado pela matriz chinesa, segundo Luis Curi, presidente da Chery do Brasil. Se tudo der certo, será sua 12ª unidade no mundo.
Hoje, a empresa brasileira responsável pelas importações é a JLJ, controladora da Nutriplus, de Salto (SP). Segundo fontes do mercado, a Chery estaria buscando outro parceiro local.
A capacidade inicial da fábrica será de 150 mil a 170 mil unidades ao ano e o primeiro produto será um carro pequeno, identificado como Projeto S18, na faixa do Gol e do Palio. A operação começa com a importação de kits (CKDs), que serão montados localmente. A nacionalização será gradativa. "O carro ainda está sendo desenvolvido, mas chegará ao País já com adaptações, como o motor flex", informa Curi.
Atualmente, a Chery vende no Brasil o utilitário Tiggo, montado no Uruguai, em uma fábrica que corre o risco de ser fechada. No ano passado, o modelo vendeu apenas 500 unidades.
A partir de maio, a marca vai trazer da China três novos modelos: o Face, o Cielo e o subcompacto QQ, prometido por R$ 20 mil. Com esses produtos, espera vender 10 mil unidades neste ano e 20 mil em 2011.
O ex-presidente da Citroën, Sérgio Habib, hoje dono da empresa SHC, que também vai importar modelos chineses, acredita que, com produção local, o carro chinês "perde a vantagem do custo-China" e terá preços similares aos dos veículos fabricados pelas marcas tradicionais. Por isso, aposta na importação. Em 2011, ele vai começar a trazer quatro modelos da montadora JAC, com preços acima de R$ 35 mil. A JAC não tem intenção de montar automóveis no Brasil, mas estuda uma fábrica de caminhões pesados. Nesse segmento, só produtos nacionais têm acesso a financiamentos via Finame.
O grupo Effa, importador das marcas Hafei e Lifan, fez uma aposta intermediária. Abriu uma linha de montagem no Uruguai, país natal do dono da empresa, Eduardo Effa, que já mantinha outros negócios no ramo automotivo. Há planos também para uma linha no Brasil, de produção de utilitários em Manaus (AM).
Segundo o diretor comercial Clairto Acciarto, as obras da unidade foram interrompidas para priorizar a uruguaia, mas em breve serão retomadas. Essa unidade vai montar utilitários da Hafei, hoje importados, e a do Uruguai ficará com os automóveis da Lifan, o 320 ? visto pelo mercado como uma cópia do Mini Cooper ? e o sedã 620, com preços entre R$ 30 mil e R$ 40 mil.
A instalação no Uruguai recebe os componentes desmontados da China e apenas monta os veículos num galpão. O projeto, com capacidade para 5 mil veículos ao ano, recebeu US$ 6,5 milhões, bancados pela Effa. A Lifan fornece peças e tecnologia e estuda uma participação societária na fábrica. Outros US$ 8 milhões a US$ 10 milhões deverão ser investidos numa ampliação, para elevar a capacidade para 25 mil veículos até o final do ano.
Os planos incluem também a produção local de motores. Segundo Acciarto, 85% da produção será destinada ao mercado brasileiro e o restante para o Uruguai e Paraguai. Futuramente, a unidade também abastecerá a Venezuela e o México.
A previsão da Effa é de vender mais de 8 mil veículos neste ano. A empresa também importa o M100, que compete com o Fiat Mille. O modelo tem vendas baixas e foi mal avaliado em teste feito pela imprensa especializada.
Até agora responsável pela importação dos veículos Towner e Topic das marcas Hafei e Jinbei, a brasileira CN Auto decidiu ampliar o leque de produtos. Vai trazer ainda neste ano modelos da marca Great Wall ? inicialmente o utilitário Hover, a picape média Wingle e o CoolBear. "Estamos em processo de homologação dos veículos e os preços ainda não estão definidos, mas vão se posicionar abaixo dos concorrentes", avisa o diretor comercial Humberto Gandolpho.
Viabilidade. A CN Auto, cujo maior sócio é a financeira Omni, espera vender este ano mais de 5 mil veículos. A produção local não está descartada, mas não terá início no curto prazo. Segundo Gandolpho, "uma fábrica só é viável quando as vendas atingem cerca de 50 mil unidades anuais".
A CN Auto resgatou os nomes Towner e Topic da Asia Motors, que atuou no País nos anos 90, mas faliu na Coreia e saiu do Brasil , deixando para trás uma dívida bilionária em impostos.
"Esse nicho de mercado ficou desassistido, por isso apostamos nele", afirma Gandolpho. No ano passado a marca vendeu cerca de 2 mil veículos e espera chegar aos 5 mil este ano. Em abril, a empresa iniciou a importação de uma versão menor da Towner, a Junior, vendida a R$ 21,9 mil com cabine simples e a R$ 25,3 mil com cabine dupla.
Outra marca que até agora atuava no segmento de comerciais leves com picapes e vans e vai entrar no segmento de automóveis é a Chana. Na semana passada, enquanto visitava o Salão do Automóvel de Pequim, o diretor da Districar, Moshin Ibraimo, fechou acordo para trazer ao País os compactos Mini Benni e Benni 1.0 (na faixa de R$ 30 mil a R$ 32 mil) e o hatch Alsvin 1.5 (a partir de R$ 40 mil).
A Districar pertence ao grupo português Tricos e foi o primeiro a importar carros chineses. Em 2006, a empresa trouxe os modelos da marca Chana, fabricados pela ChangAn. Em 2009, vendeu apenas 300 unidades, segundo a Fenabrave. Este ano, projeta um salto para 3,5 mil unidades.
Ibraimo afirma que o grupo ChangAn estuda instalar uma unidade na América Latina, e o país mais cotado para receber uma linha de montagem de CKDs é o Brasil. "A ideia é usar o Brasil como base para exportar para outros países da região, como Chile e Colômbia", diz. Segundo ele, um volume anual de 4 a 5 mil veículos "já justifica uma fábrica local".
A BYD negocia uma parceria local com o grupo Caoa, do empresário brasileiro Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que já tem em Goiás uma fábrica com a bandeira da coreana Hyundai. Segundo ele, as negociações estão adiantadas, mas há um protocolo que estabelece sigilo nas informações.
Os planos também são ousados para a rede de concessionários. De acordo com representantes das quatro marcas chinesas que já atuam como importadores, o número de lojas deve pular de 149 para 259 até o fim do ano.
Mas os carros chineses ainda esbarram em uma questão-chave, segundo o sócio-diretor da consultoria Vallua, Lucas Copelli: a reputação. "O brasileiro, na hora de comprar um veículo, leva muito em conta a marca do fabricante ", afirma.
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