quinta-feira, 27 de maio de 2010

Como a Europa afeta o Brasil

Fernando Canzian na Folha.com

Os números abaixo mostram como o mundo cresceu em 2009 e a participação de cada bloco (avançado e emergente) e de alguns países no PIB global.

Peso dos blocos
54% - Países avançados
46% - Países emergentes

Países avançados
20,5% - EUA
15% - Zona do euro
6% - Japão

Os Bric (emergentes)
12,5% - China
5% - Índia
3% - Brasil
3% - Rússia

Pela primeira vez, o ano passado trouxe uma divisão quase pela metade na participação dos países ricos e pobres na evolução global (54% a 46%). Em 2010, o peso dos emergentes deverá ser ainda maior, principalmente por conta da estagnação ou crescimento negativo entre vários dos 16 países europeus que integram a zona do euro.

Note-se que os países que têm o euro como moeda contribuíram com 15% do crescimento mundial em 2009. Foi a segunda maior fatia depois dos EUA. A China obteve a terceira (12,5%). O Brasil, apesar de todo o recente ufanismo econômico, participou com apenas 3%, segundo dados do FMI.

A crise que assola a União Europeia hoje é de extrema gravidade. Não apenas as famílias de alguns países estão endividadas em patamares recordes como os bancos europeus ainda estão longe de recuperar o capital necessário para manter suas atividades (e empréstimos) em níveis de rotina. Isso, somado ao endividamento estatal (a face mais visível e até aqui "noticiosa" da crise), representa um problema que demandará anos para ser resolvido.

A crise europeia já dificulta a bancos e empresas brasileiras obter financiamento no mercado europeu a fim de ampliar investimentos produtivos ou para rolar dívidas. É por esse canal que o chamado "problema europeu" vai pegar o Brasil.

Além disso, ele trará uma forte tendência de queda das exportações nacionais para países da região. No ano passado, o Brasil foi um dos mais afetados pela diminuição da atividade econômica na Europa. Só as vendas de commodities agropecuárias e minerais para a região caíram 30%.

Isso não apenas reduz o saldo da balança comercial brasileira e piora as contas externas, mas diminui também o caixa disponível das empresas para novos investimentos.

Mais: neste ano, cerca de US$ 3 bilhões de investidores estrangeiros saíram da Bovespa. Trata-se de um dinheiro que ajudaria a capitalizar empresas brasileiras que queriam investir.

Investimentos no setor produtivo brasileiro são a chave para que o país possa continuar a crescer rapidamente e sem inflação. Hoje, a maior parcela do crescimento está apoiada no consumo e no crédito, não no aumento da oferta de produtos. Esse é o risco.

O Banco Central já voltou a aumentar a taxa básica de juros no país para esfriar a economia e tentar segurar a inflação, que se aproxima do teto (6,5%) da meta de 4,5% no ano.

Só um forte aumento dos investimentos produtivos faria crescer a oferta de bens e serviços para que o país pudesse crescer sem tantas pressões inflacionárias.

E por isso que a crise na Europa é má notícia para o Brasil.

Nosso crescimento segue apoiado em um consumo inflacionário. Não em investimentos produtivos capazes de conter preços em alta.

*

Veja abaixo vídeo de entrevista com o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda e professor emérito da Fundação Getulio Vargas.

Na entrevista, Bresser Pereira fala sobre a necessidade de o Brasil aumentar a taxa de investimentos para crescer sem inflação e a respeito da crise na Europa e suas implicações sobre a economia brasileira.

No link abaixo, a íntegra da entrevista, com cerca de 15 minutos.

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