Acordo com a Tereos prevê aporte de R$ 1,6 bilhão num prazo de cinco anos
A Petrobrás e a Tereos Internacional anunciaram ontem uma parceria estratégica para investimento conjunto na Açúcar Guarani, subsidiária do Grupo Tereos, com o objetivo de acelerar o crescimento na indústria brasileira de etanol, açúcar e bioenergia. A estatal, por meio da subsidiária Petrobrás Biocombustível, vai investir R$ 1,6 bilhão para ingressar no capital da Guarani, para obter participação societária de 45,7% na companhia.
A decisão da Petrobrás de investir na Açúcar Guarani foi estratégica, e ela será utilizada para que a estatal cresça sua produção de etanol por meio de expansão orgânica e futuras aquisições que serão realizadas por meio da Guarani. A afirmação foi feita pelo presidente da Petrobrás Biocombustível, Miguel Rossetto, durante divulgação do acordo, que tem um prazo de cinco anos para ser completado.
O executivo afirmou que a empresa formada pela Petrobrás e pela Guarani será consolidadora. "Estudamos uma série de empresas e a opção pela Guarani se deveu à qualidade de seus ativos, de sua administração e de seu potencial em expansão através de aquisições", disse. Na prática, a Petrobrás espera participar da expansão do mercado de etanol por meio da Guarani.
Na safra passada, a Guarani processou 17,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, das quais 60% foram direcionados para a produção de açúcar e 40% para etanol. "Com nossa participação na Guarani, a estratégia é expandir mais a produção do etanol, chegando ao mix de 50% de etanol e 50% de açúcar", disse Jacyr Costa Filho, CEO da Guarani.
Aportes graduais. Segundo Costa Filho, os aportes da Petrobrás Biocombustível deverão ser feitos gradualmente, à medida em que novos projetos forem surgindo. Neste primeiro momento, será feito um aporte de R$ 682 milhões e, nos próximos cinco anos, outros R$ 929 milhões serão injetados na Guarani, em projetos específicos.
"Agora, iremos nos concentrar em nosso crescimento orgânico, na expansão das sete usinas incluídas no acordo com a Petrobrás", disse. As usinas incluídas no acordo são a Cruz Alta, Tanambi, São José, Severínia, Andrade e Vertente (onde a Guarani possui 50% do controle), todas localizadas no noroeste paulista, além de uma unidade localizada em Moçambique.
Os recursos a serem injetados na Guarani já constam do plano de investimentos da Petrobrás, de acordo com Rossetto. O plano prevê que a empresa invista, no prazo de 2009 a 2013, US$ 2,8 bilhões na produção de etanol e biodiesel. Para Rossetto, o investimento de uma soma expressiva deste orçamento na Guarani revela a importância estratégica que este acordo terá. O executivo não descartou, contudo, que aquisições menores sejam realizadas pela Petrobrás no médio prazo.
Costa Filho, ressaltou a troca de sinergias que haverá no processo, com a Guarani entrando com sua expertise e a Petrobrás com recursos que podem garantir o crescimento da empresa como um todo. O aporte inicial será feito na Cruz Alta, uma subsidiária da Guarani. Depois, quando a Guarani fechar o seu capital, como parte do processo de sua absorção pela Tereos Internacional, a participação da Petrobrás irá migrar diretamente para a Guarani, onde terá participação de 45,7%.
Segundo Rossetto, novos aportes não estão descartados, mas a Petrobrás só poderá chegar a até 49% de participação. A Tereos Internacional - que abrigará a Açúcar Guarani e outros ativos de cereais e cana na Europa e Pacífico - tem a opção também de investir R$ 600 milhões na Guarani, por meio de aumento de capital, em um período de 12 meses após o ingresso da Petrobrás na Guarani.
Apesar do acordo entre as duas empresas, Rossetto disse que a Petrobrás não vai distribuir o etanol produzido pela Guarani por conta de sua participação na empresa. "A Guarani irá buscar no mercado as melhores oportunidades para realizar a distribuição de seu produto, e não precisa ser necessariamente via Petrobrás", disse ele. O negócio não incluiu também um projeto paralisado que a Guarani possui, chamado Cardoso.
Aposta
MIGUEL ROSSETTO
PRESIDENTE DA PETROBRÁS BIOCOMBUSTÍVEL
"Estudamos uma série de empresas e a opção pela Guarani se deveu à qualidade de seus ativos, de sua administração e de seu potencial em expansão através de aquisições"
PARA LEMBRAR
Empresa é alvo de 2º negócio em um mês
A compra de ações pela Petrobrás é o segundo negócio envolvendo mudanças na Açúcar Guarani em um mês. No fim de março, a empresa, que já era subsidiária do grupo francês Tereos, passou a fazer parte do conglomerado Tereos Internacional, resultado da combinação dos ativos da Guarani no Brasil com a operação de cereais do Grupo Tereos na Europa e a área de cana-de-açúcar do conglomerado no Oceano Índico. Na época, o Tereos Internacional divulgou que seu foco seria a produção de açúcar, álcool e produtos à base de amido, além de bioenergia. Antes do negócio com a Petrobrás, anunciado ontem, o Grupo Tereos detinha 69% das ações da Guarani.
O Tereos Internacional afirmou, no fim de março, que teria uma receita calculada em aproximadamente US$2,5 bilhões. Ao anunciar a união dos ativos, ficou estabelecido também que a nova empresa teria sede em São Paulo. Também foi definido que André Trucy, ex-diretor Geral da Rhodia no Brasil, seria o diretor-presidente do Tereos Internacional. A empresa também informou que o novo conglomerado pretendia requerer à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o registro de companhia aberta no Brasil.
Atualmente, a Guarani tem seis usinas no Brasil (incluindo os 50% da usina Vertente) e uma unidade produtiva em Moçambique, empregando mais de 13 mil pessoas em todas as suas operações.
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