segunda-feira, 3 de maio de 2010

Vale vende controle dos negócios de alumínio

Em uma transação de US$ 4,9 bilhões, a norueguesa Norsk Hydro assumiu a gestão de ativos como a Alunorte; Vale ficará com 22% das ações da Hydro e terá assento no conselho


Melina Costa com Reuters - O Estado de S.Paulo

A produtora norueguesa de alumínio Norsk Hydro anunciou ontem a compra do controle dos negócios de alumínio da Vale. Incluindo dívidas e uma participação em ações, o negócio chega a US$ 4,9 bilhões. Com isso, a empresa norueguesa anunciou que terá acesso a reservas de bauxita pelos próximos 100 anos.

A Vale receberá, no total, US$ 1,1 bilhão em dinheiro e uma participação de 22% na Hydro, empresa com capital aberto na Bolsa de Londres. Essa participação está avaliada em US$ 3,1 bilhões. A dívida dos negócios de alumínio da Vale, que foi assumida pela Hydro, é de US$ 700 milhões.

"(O negócio) cria uma nova era para a indústria de alumínio norueguesa e para a Norsk Hydro como empresa", disse o presidente do conselho Terje Vareberg em entrevista coletiva após o anúncio. "Sempre fomos dependentes de outros para comprar as principais matérias-primas: bauxita e alumina. Mas (o negócio com Vale) torna a Hydro uma companhia completamente integrada."

Do lado da empresa brasileira, a lógica de delegar a gestão de seus negócio de alumínio à Hydro está no acesso à energia mais barata para transformar suas reservas de minério em alumínio, um fator determinante para a competitividade no setor. "Nossa participação na indústria de alumínio primário é pequena, e sem potencial de crescimento devido à falta de acesso a fontes de energia de baixo custo", diz o comunicado da empresa. "A Hydro é uma grande produtora de alumínio primário, tendo acesso a energia com custos competitivos e potencial de crescimento."

Transação. Segundo os termos do acordo, a Vale vai transferir para a Hydro, no total: 51% do capital da Albras, 57% do capital da Alunorte, 61% do capital da Companhia de Alumina do Pará (CAP) e 60% do capital da Bauxite JV, empresa que será criada para reunir a mina de Paragominas e demais operações de bauxita da empresa no Brasil. A participação restante de 40% na Bauxite JV deverá ser vendida à Hydro até 2015 em duas parcelas de US$ 200 milhões em dinheiro.

Em troca, a Vale passará a ter uma participação de 22% na Hydro, após uma emissão de ações da empresa norueguesa. A brasileira não poderá vender seus papéis por um período de dois anos após o término da transação e também não pode aumentar sua fatia na Hydro. A Vale terá direito a um assento no conselho de administração da norueguesa.

A transação será financiada pela Hydro por meio de direitos de emissão totalmente subscritos de 10 bilhões de coroas (US$ 1,7 bilhão). O principal acionista da empresa, o governo norueguês, tomará parte no direito de emissão. Quando a Vale receber sua fatia, o acionista estatal reduzirá sua participação de 43,8%, para 34,5%. "Parece um bom posicionamento da Norsk Hydro", disse o ministro da Indústria e do Comércio da Noruega, Trond Giske. "O governo concluiu que é aceitável diminuir sua participação."

O negócio foi aprovado pelo conselho de administração de ambas as empresas. Sua conclusão só deverá acontecer, porém, no final do ano, depois da aprovação dos acionistas da Hydro, incluindo o governo da Noruega e os sócios da Vale nas empresas envolvidas.

O anúncio da associação com a Hydro acontece apenas dois dias depois que a Vale anunciou a compra do controle da divisão de mineração da companhia BSG Resources, na Guiné, África, por US$ 2,5 bilhões. A intenção é explorar o que a brasileira chamou de "um dos melhores depósitos" de minério de ferro do mundo. /


Para lembrar

Energia era empecilho para a Vale

Para a Vale, a venda do controle dos ativos em alumínio para a Norsk Hydro é reflexo de uma dificuldade estrutural da brasileira para aumentar a sua competitividade: os altos custos de energia no País.

Em 2007, Roger Agnelli, presidente da empresa, anunciou que estudava a construção de fábricas de alumínio no exterior para tentar contornar esse problema. "A oferta de energia é um ponto crítico e está limitando nossos investimentos na área de alumínio no Brasil", disse em entrevista à época.

O executivo também citou a escassez de projetos de geração de energia no País e disse que estudava a instalação de hidrelétricas na África e na América Latina para obter custos mais baixos.

Foi exatamente esse empecilho que fez com que a Vale concentrasse seus investimentos, nos últimos anos, em outros estágios da cadeia de alumínio, como bauxita e alumina, que consomem menos energia.

Entre os ativos da Vale - agora sob controle da Hydro - estão a mina de bauxita de Paragominas, uma das maiores do mundo, e a maior mina de refino de alumina do mundo, a Alunorte (Alumina do Norte do Brasil). / M.C.

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