domingo, 2 de maio de 2010

Atenas, UE e FMI acertam pacote de ajuda

Primeiro-ministro grego deve anunciar hoje detalhes do plano que será discutido, em Bruxelas, na reunião dos 16 ministros de Finanças da zona do euro


Andrei Netto - O Estado de S.Paulo

O governo grego, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegaram a um acordo na noite de ontem sobre um plano de ajuda financeira à Grécia, informaram fontes do Ministério de Finanças.

O primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, deve anunciar hoje, num discurso em rede nacional de TV, os detalhes do acordo e o ministro de Finanças, Georges Papaconstantinou, na sequência, apresentará as medidas adicionais de austeridade que o país se comprometerá a adotar em troca do socorro.

Após o pronunciamento, Papaconstantinou viaja para Bruxelas para a reunião do Eurogrupo, o fórum dos 16 ministros de Economia da zona do euro, onde a ajuda à Grécia será confirmada. Além de um oxigênio para Atenas, o encontro marcará uma discreta, mas marcante, vitória diplomática da Alemanha.

A decisão da chanceler alemã, Angela Merkel, de atrasar a ajuda à Grécia não foi só uma demonstração da rigidez do país. Foi uma resposta à opinião pública e, sobretudo, uma pressão política para que quem vier a desrespeitar o Pacto de Estabilidade da zona do euro seja punido.

A estratégia vinha sendo usada de forma ostensiva desde a eclosão da crise grega, em dezembro de 2009, mas começou antes, após a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008. À época em que chefes de Estado e de governo dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido suplicavam para que a União Europeia encontrasse um consenso sobre um pacote de estímulo à economia, Merkel era a mais reticente, temendo afundar o país no déficit fiscal.

Seu temor tinha fundamento. Um ano e meio depois, os 16 países da zona do euro têm déficit fiscal médio de 6,3% - mais de duas vezes superior ao teto fixado pelo Pacto de Estabilidade de Maastricht, de 3%. Dentre os governos que adotam a moeda única, apenas Luxemburgo e Finlândia preenchem os critérios, com déficits de 0,7% e 2,2%. Em contraste com o pequeno buraco de 3,3% da Alemanha, países como Irlanda (14,3%), Grécia (13,6%) e Espanha (11,2%) deixaram suas contas explodirem, ameaçando a estabilidade do euro.

Desleixo. Além da aversão da opinião pública ao socorro e da eleição regional alemã, foi para lutar contra o desleixo com as contas públicas que Angela Merkel emparedou, com o silêncio do francês Nicolas Sarkozy, o governo socialista de Georges Papandreou.

"A pressão sobre a Grécia foi uma decisão deliberada do governo alemão. Seu objetivo era pressionar os demais países da zona do euro a respeitar os engajamentos do Pacto de Estabilidade", disse ao Estado Roland Doerhrn, membro do Instituto de Pesquisas RWI e docente da Universidade de Mainz.

"Os mercados entenderam que a Alemanha se vale desse episódio para obrigar os países europeus a respeitarem o Pacto de Estabilidade, ou seja, a reduzir seus déficits", concorda Jean-Paul Fitoussi, do Centro de Pesquisa Econômica (OFCE), de Paris.

O problema é que a estratégia quase levou a Europa a uma crise generalizada de credibilidade nos mercados financeiros. Entre terça e quarta-feira, três países - Grécia, Portugal e Espanha - tiveram seus títulos rebaixados pela Standard & Poor"s. Foi necessária uma visita extraordinária do presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, e do secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, Angel Gurria, para que Merkel cedesse aos apelos e concordasse com a liberação dos recursos.

Joaquín Almunia, vice-presidente da Comissão Europeia, reconhece o risco de efeitos colaterais causados pela espera prolongada pelos ? 45 bilhões da UE e do FMI. "Dois meses e meio é uma eternidade para uma situação como essa. Temos de reconhecer isso e aprender com a experiência", disse em entrevista à rádio Cadena SER, da Espanha.

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