terça-feira, 27 de abril de 2010

Em Teerã, Amorim mantém defesa do programa iraniano

Para chanceler brasileiro, sanções contra o Irã são 'iniciativas negativas e[br]injustas, que não dão nenhum resultado'


TEERÃ - O Estado de S.Paulo

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse ontem, em visita a Teerã, que as sanções contra o Irã "são iniciativas negativas e injustas, que não dão nenhum resultado". Para Amorim, "o Irã tem o direito de realizar atividades nucleares pacíficas", dentro das normas estipuladas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que proíbem o desenvolvimento de armas nucleares.

A mensagem reafirma a disposição brasileira de votar contra novas sanções no Conselho de Segurança da ONU. De acordo com os governos da França, Grã-Bretanha e EUA - três dos cinco membros permanentes do Conselho - o regime iraniano ilude a comunidade internacional com a promessa de desenvolver um programa nuclear pacífico, enquanto, secretamente, produz armas atômicas.

Para o Brasil, que ocupa uma das dez vagas rotativas do órgão, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, diz a verdade. "Não vejo o Irã perto de construir uma bomba (atômica)", disse Amorim, em entrevista ao Estado, publicada no domingo.

Outros dois membros permanentes do Conselho - Rússia e China - dão sinais de que apoiariam as sanções caso elas fossem levadas à votação. A visita de Amorim encerra-se hoje e serve de preparação para a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará ao Irã nos dias 16 e 17.

O discurso de Amorim foi acompanhado por autoridades iranianas, que voltaram a criticar os EUA e a ONU. Para o presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, anfitrião do chanceler brasileiro, "votar resoluções e impor sanções não é uma abordagem correta para estabelecer um diálogo com o Irã".

Para ele, "o sensacionalismo e a agitação do Ocidente não influenciarão, de maneira nenhuma, a vontade de o povo iraniano resistir". Ahmadinejad disse que os cinco membros do Conselho usam "instrumentos satânicos" para impedir o desenvolvimento tecnológico iraniano.

"A humanidade não precisa de bomba atômica nem de invasões nem sequer do Conselho de Segurança ou do direito de veto", disse ele no domingo, em um seminário em Teerã, um dia antes de receber Amorim.

Em Brasília, o assessor especial para relações exteriores do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, declarou ontem que o Brasil "não defende o Irã". "Quem disse que estamos defendendo o Irã? Isso é uma versão que vocês (da imprensa) estão tentando passar", afirmou, em entrevista coletiva. / REUTERS, AP e AFP. COLABOROU, TÂNIA MONTEIRO


PARA ENTENDER

O governo brasileiro não apenas se opõe à adoção de sanções internacionais contra o programa nuclear iraniano no Conselho de Segurança da ONU, como enviou a Teerã, no início do mês, uma missão econômica liderada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e mais de 80 empresários para ampliar as linhas de crédito entre os dois países.
A estratégia brasileira de abrir um canal alternativo às grandes potências que diversificasse o contato com o regime iraniano, foi tolerada pelos EUA no início, mas, aos poucos, passou a ser vista como mais uma artimanha do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, para ganhar tempo nas negociações, enquanto mostra aos seus desafetos que ainda conta com algum respaldo internacional.

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